Proteção Florestal

As ações do IEF-MG para a proteção florestal


O Jornal do Meio Ambiente conversou com Humberto Candeias Cavalcanti, presidente do Instituto Estadual de Florestas (IEF) sobre o panorama florestal do Estado de Minas Gerais, as expectativas da assinatura do convênio entre o IEF e a Prefeitura de São João das Missões e as atividades em comemoração da Semana da Árvore.

JMA: Durante as comemorações da Semana da Árvore serão assinados alguns decretos em favor da proteção florestal, qual sua opinião sobre essas iniciativas?

Humberto Cavalcanti: Isso mostra que a Semana da Árvore não é um momento só para solenidade e cultivo de uma árvore numa praça. Realmente a Semana da Árvore precisa de ações efetivas. Estamos com novidades extraordinárias como a criação do Parque Estadual da Serra do Cabral, que protege os mananciais de água puríssima e consegue melhorar a qualidade do Rio das Velhas, onde ele deságua. Com a criação da Reserva Extrativista da Serra do Cabral conseguimos junto com as pessoas que utilizam a área fazer uma intercalação entre essa atividade que é de uma comunidade tradicional extrativista e a preservação dos recursos naturais, isso proporciona um trabalho com alta tranqüilidade, onde a comunidade se insere dentro de nossa atividade. A nossa grande conquista é a Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, um trabalho extremamente importante, no qual em menos de 40 dias uma equipe composta pelo IEF, a ONG Sociedade Amigos do Tabuleiro, a Prefeitura de Conceição do Mato Dentro conseguiu a aprovação da Unesco com muitos elogios, sendo considerado um dos melhores trabalhos apresentados até hoje para a criação de uma Reserva da Biosfera. Isso nos traz uma responsabilidade muito grande porque é uma área de grande importância e tem condições de agregar questões de aumento de renda e emprego na região, uma região que não tem característica de uso de solo pra agricultura, mas sim para o ecoturismo.

JMA: Como está a situação da Mata Atlântica em Minas Gerais?
Humberto Cavalcanti: Na Mata Atlântica temos situações em localidades pontuais. Fizemos uma avaliação do sistema de monitoramento, onde detectou-se 9,2%, isso considerando cobertura primária, estágio inicial e avançado de degradação, logicamente que mais de 98% está nesse estágio, mas em algumas regiões, como a da Zona da Mata mineira, onde nos topos de morro, principalmente, houve uma regeneração da Mata Atlântica em função de uma fiscalização mais eficiente e também da própria questão econômica, onde a pecuária já não é tão interessante, nas áreas montanhosas em função da concorrência com as áreas mais planas e o gado confinado, isso logicamente nos dá uma maior tranqüilidade de trabalho e temos como fazer uma avaliação periódica. Em abril do ano que vem já sai os novos resultados do que aconteceu no ano de 2004 e 2005 em relação à regeneração e exploração da Mata Atlântica.

JMA: Tem como conciliar o crescimento com a preservação ambiental?

Humberto Cavalcanti: Em várias regiões do estado sim e inclusive em algumas regiões, a própria conscientização e o mercado mundial no formato que está indo tem possibilitado que pessoas e empresas, principalmente do setor agropecuário, comecem a se adequar às questões ambientais, um grande exemplo disso é o setor sucroalcooleiro do Triângulo Mineiro que vem realizando um processo de manutenção da sua qualidade ambiental e social com as questões de exportação e de participação do mercado do álcool e do açúcar no mundo. Ele vem transformando algumas áreas e retomando essas áreas para suas vocações de preservação, estão afastando os canaviais, por exemplo, das áreas de preservação permanente das veredas e regularizando a sua situação da reserva legal. Essa questão do mercado mundial ter os valores sociais e ambientais agregados tem auxiliado para melhorar a conscientização da preservação ambiental.

JMA: A AMDA reivindica uma alteração na lei florestal que, segundo a associação, dá brechas para a destruição de florestas nativas para a instalação de cultura de soja e eucalipto. Como o IEF vê essa situação e o Instituto reconhece que há a necessidade de uma alteração da Lei Florestal?

Humberto Cavalcanti: Sim, nós precisamos passar por uma revisão da Lei Florestal, o grande problema questionado e existe uma razão forte sobre isso, é a questão do consumo do carvão vegetal e a lei nº14.309 dá uma autonomia e liberdade de consumo, resolvendo a questão da reposição florestal através da cobertura da reposição florestal em dobro, mas que permite que os consumidores realizem o consumo sem controle. Agora, o controle está logicamente na produção. Nós estamos aliando nossos esforços já que tem essa brecha, para que possamos reduzir a pressão sobre a mata nativa em relação ao consumo do carvão vegetal e fazer um trabalho intenso de reflorestamento do estado, que é o mais importante para nós e que a partir do momento que tenham as culturas apropriadas para a produção do carvão, nós não teremos a pressão sobre os remanescentes nativos do estado.

JMA: Será assinado um convênio entre o IEF e a Prefeitura de São João das Missões para fazer uma capacitação dos indígenas Xacriabá. O que eles farão e o porque da assinatura desse convênio?

Humberto Cavalcanti: Esse convênio é muito importante por ser uma área de reserva indígena na qual já estamos trabalhando há mais tempo. Nós pretendemos dar alternativa de renda para essa população indígena de uma forma sustentável e também treiná-los e capacitá-los na questão do combate e prevenção dos incêndios florestais, já que houve em 2003 um problema sério na área deles em termos de incêndios florestais. Este convênio é extremamente importante, porque você tem a participação da população indígena com culturas que podem trazer melhoria de rendas, mas dentro de uma situação sustentável.



Matéria originalmente publicada no Jornal do Meio Ambiente - Edição: Setembro/2005.

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